“Estamos na quadra litúrgica do Advento, mas tudo parece encenado e polarizado apenas pela memória do nascimento de Jesus, alimentando um terno imaginário da infância, com alguma e passageira solidariedade, própria da estação, sem, no entanto, tocar nos alicerces da sociedade. É como se nada estivesse para acontecer.”
“Tocar nos alicerces da sociedade”, escreve o doente mental. Um doente mental da igualha dos que mataram mais de 100 milhões de pessoas inocentes no século XX: os doentes mentais ou/e psicopatas que quiseram “tocar nos alicerces da sociedade” tentando alterar a Natureza Humana, e acabaram com mais de uma centena de milhões de mortos em nome de uma utopia.
“O meu reino não é deste mundo” — afirmou Jesus Cristo (João 18, 36)
Das duas, uma: ou o Frei Bento Domingues não percebeu patavina do que está escrito nos Evangelhos; ou é um grande filho-de-puta.
A imanentização do éschatos só se justifica vindo da parte de um doente mental, ou então de um filho-de-puta psicopata.
« Quando o coração é sensível e o espírito contundente, basta lançar um olhar sobre o mundo para ver a miséria da criatura e pressentir as vias da redenção; se são insensíveis e embotados, serão necessárias perturbações maciças para desencadear sensações fracas.
É assim que um príncipe mimado se apercebeu pela primeira vez de um mendigo, de um doente e de um morto ― e tornou-se assim em Buda; em contrapartida, um escritor contemporâneo vive a experiência de montanhas de cadáveres e do horroroso aniquilamento de milhares de indivíduos nas conturbações do pós-guerra na Rússia ― e conclui que o mundo não está em ordem e tira daí uma série de romances muito comedidos.
Um, vê no sofrimento a essência do ser e procura uma libertação no fundamento do mundo; o outro, vê-a como uma situação de infelicidade à qual se pode, e deve, remediar activamente. Tal alma sentir-se-á mais fortemente interpelada pela imperfeição do mundo, enquanto a outra sê-lo-á pelo esplendor da criação.
Um, só vive o além como verdadeiro se ele se apresentar com brilho e com grande barulho, com a violência e o pavor de um poder superior sob a forma de uma pessoa soberana e de uma organização; para o outro, o rosto e os gestos de cada homem são transparentes e deixam transparecer nele a solidão de Deus. »
→ Eric Voegelin