04/02/18

O José Manuel Pureza e a nova versão do PREC [Processo Revolucionário em Curso]

 

“Nem a eloquência revolucionária, nem as cartas de amor, podem ser lidas por terceiros sem hilaridade.”

— Nicolás Gómez Dávila


Se lermos este texto do José Manuel Pureza, o conteúdo ideológico parece-nos uma espécie de “amanhãs que cantam” aplicados à ética e à cultura. A argumentação do Pureza sobre a legalização da eutanásia é histriónica; e por isso não é a argumentação que interessa analisar agora, mas antes interessa especificar a atitude do Pureza face à Realidade.

prec-webO conceito comunista/revolucionário e popularucho dos “amanhãs que cantam” reflecte a imanência do paraíso na Terra e uma confiança — é mesmo uma — total no ser humano, no sentido da prossecução das tarefas necessárias para que esse paraíso terrestre imanente seja alcançado.

Mas a realidade é muito diferente daquela que é “sonhada” pelo Pureza — partindo do princípio de que o Pureza está de boa-fé ao escrever aquilo (o que eu duvido).

O grande equívoco da “Revolução” Francesa não é uma excepção: é a regra! Os revolucionários da laia do Pureza são a tropa ligeira que desbasta o terreno, e a burguesia (da laia do Rui Rio e da maçonaria) é a infantaria massiva que o ocupa: toda a classe revolucionária posicionada no terreno é a burguesia. Por isso é que homúnculos como, por exemplo o Rui Rio, apoiam a moção eutanasiante do Pureza.


Depois de toda a revolução, o revolucionário da laia do Pureza defende a ideia segundo a qual a “revolução verdadeira” será a aquela outra “dos amanhãs que cantam”, ou seja, será aquela que está (ainda) por vir. O revolucionário assume sempre que um miserável qualquer traiu a revolução de ontem.

E é dentro deste esquema de pensamento que os revolucionários vão radicalizando as posições ideológicas face à Natureza Humana. As revoluções têm por função destruir as ilusões que as causam: não são locomotoras, mas antes os descarrilamentos da História. Os revolucionários não destroem senão o que fazia mais toleráveis as sociedades contra as quais se rebelam. E a grande verdade é que o ser humano não sabe que destrói senão depois de ter destruído; e aquilo que demorou muitos séculos a construir pode ser destruído por meia dúzia de bárbaros da espécie do Pureza.


A ideia do José Manuel Pureza (e dos revolucionários em geral) de “transformar sociedade” (ou mais comummente entre os revolucionários, a de “transformar o mundo”) significa literalmente “burocratizar o ser humano”, transformá-lo em uma peça de uma engrenagem desumanizante que isola o indivíduo face a um Estado plenipotenciário.

Das duas, uma: ou o José Manuel Pureza é um optimista incorrigível, ou então é um filho-de-puta — porque só um filho-de-puta ignora propositada- e ostensivamente o que se está a passar em outros países onde a eutanásia já foi legalizada. A ideia segundo a qual “Portugal será uma excepção à regra da eutanásia legalizada” só pode vir de um mentecapto; ou de um optimista psicótico; ou então, de um filho de uma grande puta.


As nossas repugnâncias espontâneas são mais lúcidas do que as nossas convicções racionalizadas; mas, a essas nossas repugnâncias espontâneas, o Pureza chama de “medo irracional” — a repugnância espontânea que nos induz a existência de uma injustiça potencial e iminente que a legalização da morte não-natural pelo Estado implica. E à nossa recusa de aceitar o Poder utilitarista plenipotenciário do Estado sobre a vida e sobre a morte — como já está a acontecer na Bélgica, na Holanda e no Canadá —, o Pureza chama de “autoritarismo”. O José Manuel Pureza especializou-se na novilíngua de 1984.

O Pureza fala da criação de uma “lei sensata” da eutanásia — mesmo sabendo do que se passa noutros países, onde a lei também seria suposta ser “sensata” quando foi criada, mas deixou de ser “sensata”.

A lei é o método mais fácil de exercer a tirania. O revolucionário (da laia do Pureza) oscila entre a estéril rigidez da lei, por um lado, e, por outro lado, uma vulgar desordem do instinto; e é esta desordem do instinto que inibe o Pureza de colocar as repugnâncias espontâneas antes de meras convicções racionalizadas.

O espírito humano implica a submissão falível a normas, e não uma sujeição infalível a leis: a ideia segundo a qual a lei da eutanásia será “sensata” porque infalível, só pode vir de um filho-de-puta de alto coturno. Reformar a sociedade por intermédio de leis é o sonho do cidadão mentecapto ou de um grande filho de uma grande alternadíssima, e é o preâmbulo de toda a tirania — ou seja, exactamente o contrário daquilo que o Pureza nos jura a pés juntos! Ou a lei é a forma jurídica do costume (costume esse que não tolera a eutanásia), ou então é um atropelo à liberdade.


A lei da eutanásia do Pureza (tomara que fosse só a dele!) e dos seus compagnons de route, sofrerá a mesma “evolução” das leis da eutanásia da Bélgica, da Holanda e do Canadá. Dentro de pouco tempo estaremos aqui todos a discutir a eutanásia de crianças com deficiências graves, como já acontece na Bélgica, por exemplo.

Os estúpidos da laia do Pureza pensam que o prazer de quebrar regras e costumes cresce indefinidamente à medida que vão abolindo essas mesmas regras e costumes.

Um Estado saudável — que não é o nosso — é aquele onde existem inúmeros obstáculos que estorvam a liberdade do legislador; mas com a ascensão da Geringonça ao Poder, os legisladores actuais não necessitam sequer da autorização do povo para legislar sobre o que seja. Vivemos já sob uma nova versão do PREC [Processo Revolucionário em Curso].

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